Um ano após o anúncio de um plano com 15 medidas para reduzir o número de alunos sem aulas, a escola reabriu em setembro e mostrou que o problema persistia: Faltavam professores em 78% das escolas públicas, segundo contas do ministério.
Os sindicatos defenderam que a situação piorou este ano, apontando para mais de 100 mil alunos afetados, um número contestado pela tutela que tem sublinhado que os diretores têm instrumentos para assegurar que estas turmas não ficam sem aulas.
Mas há um ponto em que sindicatos e governo concordam: O envelhecimento da classe docente provocou uma avalanche de reformas a um ritmo muito mais acelerado do que a chegada de jovens professores. Motivo: A profissão é pouco atraente, defendem sindicatos que pedem mais regalias.
No verão do ano passado, o ministério da Educação apresentou o plano “+ Aulas + Sucesso”, que oferecia melhores condições a quem adiasse a reforma, assim como a quem aceitasse regressar às escolas e aos que quisessem começar a dar aulas.
No norte do país há professores disponíveis, mas o problema está concentrado principalmente em escolas das zonas de Lisboa, Setúbal, Alentejo e Algarve.
O Governo ofereceu um subsídio de deslocação a quem ficasse a dar aulas a mais de 70 quilómetros de casa e lançou um concurso extraordinário para vincular cerca de 1.800 professores nas regiões mais carenciadas.
Um mês após o início das aulas, um novo levantamento feito pelos serviços do ministério mostrava que o problema perdurava. Segundo o ministro Fernando Alexandre, mais de metade dos agrupamentos continuava à procura de professores.
No parlamento, durante a apreciação da proposta do Orçamento do Estado para 2026, Fernando Alexandre reconheceu que este é “um dos problemas mais graves” do seu ministério e prometeu “gastar mais 118 milhões de euros” para combater a falta de docentes.
O Governo está disposto a gastar 24,3 milhões para atrair professores à beira da aposentação e, só este ano, quase mil professores aceitaram adiar a reforma e continuar a dar aulas.
O Ministério da Educação conta gastar também 23 milhões com todos os professores colocados longe de casa e outros 56 milhões para os docentes que fiquem a dar aulas numa das escolas onde há mais dificuldade em contratar.
O executivo prometeu desenhar um novo sistema de informação para saber quantos alunos estão, efetivamente, sem aulas, mas ainda não está concluído, apesar de a tutela ter dito que estaria a funcionar até ao final do ano.
O último estudo, divulgado em outubro, mostra que o problema se poderá prolongar: Na próxima década, as escolas vão precisar de mais 39 mil professores, mas a oferta atual só conseguirá garantir 20 mil novos diplomados, segundo o “Estudo de Diagnóstico de Necessidades Docentes de 2025 a 2034”.
Para contrariar este cenário, o ministério celebrou protocolos com várias instituições de ensino superior para formar novos professores, disponibilizando 27 milhões de euros até 2031.
O ministro Fernando Alexandre disse acreditar que não será difícil atrair jovens para a profissão: “Esta carreira é a carreira mais importante que existe (…) sem esta não há outras profissões. Esta é a mãe de todas a profissões. Desvalorizar esta profissão é um erro que se paga muito caro”.
No entanto, apenas 9% dos professores portugueses considera ser valorizado pela sociedade, um valor muito abaixo da média da OCDE (22%), segundo o maior inquérito internacional sobre professores – o “TALIS 2024 – Teaching and Learning International Survey”, que este outono revelou que os docentes portugueses são dos mais felizes da OCDE, mas também dos que mais se queixam dos salários e dos contratos de trabalho.
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